Carenagem só altera o visual da moto? A velocidade máxima aumenta ou é lenda? DUAS RODAS avaliou dois produtos e mostra o que é preciso para que o novo estilo não se transforme em dor de cabeça.
Se você não é de muita conversa é melhor esquecer este papo de carenagem. Parar num semáforo já bastava para que aparecessem dois ou três motociclistas perguntando e elogiando nossa Yamaha Fazer 250 carenada. Mas a decisão não é tão simples, nem se resume a incrementar a aparência da moto. Instalar uma carenagem significa abrir mão da garantia do fabricante e, sobretudo, tomar cuidado com a escolha e a instalação. Para avaliar os prós e contras da instalação de uma carenagem pesquisamos as opções disponíveis para as 250 Honda Twister e Yamaha Fazer, as mais procuradas para este tipo de transformação. E encomendamos uma carenagem para cada, em fabricantes diferentes e com características de projeto também distintas. Para a Twister, um kit da paraibana Xtreme Tuning Bikes inspirado na Triumph Daytona 675. Vendido pela Internet por R$ 1,4 mil requer o reposicionamento do painel, que passa a ser fixado na parte interna da bolha. E para a Fazer, o kit da gaúcha RS Motos por R$ 1,7 mil, que mantém o painel sobre a mesa e é inspirado na esportiva R1. Ambos são produzidos em fibra de vidro e incluem os suportes, parafusos, faróis duplos, retrovisores, guidão esportivo e pintura na cor solicitada.
Feitas as encomendas, as duas carenagens chegaram em pouco mais de uma semana e foram levadas junto com as motos (uma Twister e uma Fazer vermelhas) para a montagem na oficina Tuareg, em São Paulo, do colaborador de DUAS RODAS Francisco de la Cruz. Nossa primeira surpresa veio com o a ligação dele dias depois, e não era para informar que a montagem tinha terminado: "A carenagem da Twister não tem condições de montagem. O suporte para fixação está torto e a qualidade de todas as peças de metal é péssima, estão enferrujadas e mal soldadas", desabafou De la Cruz. "Chega a ser perigosa. O acabamento também é visivelmente descuidado, a grade de uma entrada de ar já está caindo e os refletores dos faróis são um pedaço de fibra pintado de prata". A solução foi desistir da carenagem na Twister, que mesmo se ignorássemos a qualidade ficaria desalinhada, e seguir com a montagem da Fazer.
Má qualidade das peças que seriam para twister impediram a instalação para teste
Aproveitei as férias de fim de ano e decidi experimentá-la na estrada, numa viagem de 360 km até o Litoral Sul paulista. No uso rodoviário a carenagem se revelou muito bem-vinda: eficiente ao desviar o vento em velocidades elevadas, proporcionou uma viagem mais confortável. Mesmo com 1,84 m de altura não era preciso me abaixar para minimizar o arrasto e acima dos 100 km/h senti o ar passando somente pela parte de cima do capacete. Velocidades que antes só podiam ser atingidas com o piloto sozinho e completamente debruçado sobre a motocicleta foram alcançadas na posição normal de pilotagem. Não foi preciso abaixar para atingir 132 km/h reais (pouco mais de 140 km/h no painel) e bastou um ligeiro aclive para o motor da Fazer cortar a ignição a 137 km/h (150 km/h no painel), o que sem a carenagem a moto atinge apenas se o piloto estiver abaixado.
a trepidação causou riscos à pintura
Porcas soltas
De volta a São Paulo fui surpreendido por um barulho forte após passar por um buraco. As porcas de fixação da carenagem haviam caído e toda a peça estava apoiada nos parafusos que não haviam saído do lugar. Provavelmente as porcas se soltaram devido à trepidação durante a viagem. A solução foi colocar porcas com flange (aquelas autotravantes, com uma arruela de náilon), e a carenagem não se soltou mais até o dia da desmontagem, que deixou a Fazer novamente original - e com alguns riscos na pintura, devido ao incidente das porcas se soltarem. Procuramos a fabricante, que respondeu que todas as carenagens produzidas desde o fim de 2008 vêm com porcas autotravantes e adotou uma "tira" de borracha que agora contorna as peças na junção com as originais da moto, o que evita riscos.
Abaixo resumimos numa espécie de guia de compra quais cuidados é preciso ter na escolha de uma carenagem. E prepare-se para muita conversa, porque carenagem dá o que falar:
Guia de compra
A dica essencial é nunca comprar apenas por imagens na Internet. Procure um revendedor que tenha o produto em exposição e cheque a qualidade de acabamento da fibra de vidro (pelo interior da carenagem) e rigidez. Atenção também à qualidade de vedação e fixação dos faróis (por trás da carenagem) e ao acabamento dos refletores. É indispensável que a altura do facho do farol possa ser regulada. A qualidade das peças de metal é fundamental para a segurança do conjunto, por isso certifique-se que estão alinhadas, as soldas bem feitas, o metal tem bom acabamento e não apresenta oxidação. E para avaliar se o conforto ou o esterçamento do guidão são prejudicados procure uma moto com a carenagem já instalada.
Fonte: Revista Duas Rodas
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