quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vale a pena instalar carenagem numa moto?

Carenagem só altera o visual da moto? A velocidade máxima aumenta ou é lenda? DUAS RODAS avaliou dois produtos e mostra o que é preciso para que o novo estilo não se transforme em dor de cabeça.



Se você não é de muita conversa é melhor esquecer este papo de carenagem. Parar num semáforo já bastava para que aparecessem dois ou três motociclistas perguntando e elogiando nossa Yamaha Fazer 250 carenada. Mas a decisão não é tão simples, nem se resume a incrementar a aparência da moto. Instalar uma carenagem significa abrir mão da garantia do fabricante e, sobretudo, tomar cuidado com a escolha e a instalação. Para avaliar os prós e contras da instalação de uma carenagem pesquisamos as opções disponíveis para as 250 Honda Twister e Yamaha Fazer, as mais procuradas para este tipo de transformação. E encomendamos uma carenagem para cada, em fabricantes diferentes e com características de projeto também distintas. Para a Twister, um kit da paraibana Xtreme Tuning Bikes inspirado na Triumph Daytona 675. Vendido pela Internet por R$ 1,4 mil requer o reposicionamento do painel, que passa a ser fixado na parte interna da bolha. E para a Fazer, o kit da gaúcha RS Motos por R$ 1,7 mil, que mantém o painel sobre a mesa e é inspirado na esportiva R1. Ambos são produzidos em fibra de vidro e incluem os suportes, parafusos, faróis duplos, retrovisores, guidão esportivo e pintura na cor solicitada.

Feitas as encomendas, as duas carenagens chegaram em pouco mais de uma semana e foram levadas junto com as motos (uma Twister e uma Fazer vermelhas) para a montagem na oficina Tuareg, em São Paulo, do colaborador de DUAS RODAS Francisco de la Cruz. Nossa primeira surpresa veio com o a ligação dele dias depois, e não era para informar que a montagem tinha terminado: "A carenagem da Twister não tem condições de montagem. O suporte para fixação está torto e a qualidade de todas as peças de metal é péssima, estão enferrujadas e mal soldadas", desabafou De la Cruz. "Chega a ser perigosa. O acabamento também é visivelmente descuidado, a grade de uma entrada de ar já está caindo e os refletores dos faróis são um pedaço de fibra pintado de prata". A solução foi desistir da carenagem na Twister, que mesmo se ignorássemos a qualidade ficaria desalinhada, e seguir com a montagem da Fazer.





Má qualidade das peças que seriam para twister impediram a instalação para teste

Tudo pronto para começar o teste com a Yamaha, fui alertado que seria preciso ter cuidado com o guidão, porque encostava na carenagem. Fora o problema do esterçamento do guidão e de uma saliência na carenagem que fica bem na posição dos joelhos, podendo incomodar os pilotos mais altos (problema comum em algumas esportivas), em termos de ergonomia esta carenagem se saiu bem e praticamente não altera a ciclística da moto. A posição dos retrovisores, agora fixados na parte frontal e não mais no guidão, chega a ser mais segura. Porém, os espelhos com formato afilado não são convexos e com a trepidação durante o uso fica ainda mais difícil enxergar. Com duas semanas de uso urbano fiquei convencido de que a carenagem influi basicamente na estética. Chama atenção, é verdade, mas pouco altera a agilidade nas manobras e não dificultou a refrigeração do motor. Dias depois apareceram ruídos que mais tarde se transformariam em problemas.

Aproveitei as férias de fim de ano e decidi experimentá-la na estrada, numa viagem de 360 km até o Litoral Sul paulista. No uso rodoviário a carenagem se revelou muito bem-vinda: eficiente ao desviar o vento em velocidades elevadas, proporcionou uma viagem mais confortável. Mesmo com 1,84 m de altura não era preciso me abaixar para minimizar o arrasto e acima dos 100 km/h senti o ar passando somente pela parte de cima do capacete. Velocidades que antes só podiam ser atingidas com o piloto sozinho e completamente debruçado sobre a motocicleta foram alcançadas na posição normal de pilotagem. Não foi preciso abaixar para atingir 132 km/h reais (pouco mais de 140 km/h no painel) e bastou um ligeiro aclive para o motor da Fazer cortar a ignição a 137 km/h (150 km/h no painel), o que sem a carenagem a moto atinge apenas se o piloto estiver abaixado.




a trepidação causou riscos à pintura

Porcas soltas

De volta a São Paulo fui surpreendido por um barulho forte após passar por um buraco. As porcas de fixação da carenagem haviam caído e toda a peça estava apoiada nos parafusos que não haviam saído do lugar. Provavelmente as porcas se soltaram devido à trepidação durante a viagem. A solução foi colocar porcas com flange (aquelas autotravantes, com uma arruela de náilon), e a carenagem não se soltou mais até o dia da desmontagem, que deixou a Fazer novamente original - e com alguns riscos na pintura, devido ao incidente das porcas se soltarem. Procuramos a fabricante, que respondeu que todas as carenagens produzidas desde o fim de 2008 vêm com porcas autotravantes e adotou uma "tira" de borracha que agora contorna as peças na junção com as originais da moto, o que evita riscos.

Abaixo resumimos numa espécie de guia de compra quais cuidados é preciso ter na escolha de uma carenagem. E prepare-se para muita conversa, porque carenagem dá o que falar:



Guia de compra

A dica essencial é nunca comprar apenas por imagens na Internet. Procure um revendedor que tenha o produto em exposição e cheque a qualidade de acabamento da fibra de vidro (pelo interior da carenagem) e rigidez. Atenção também à qualidade de vedação e fixação dos faróis (por trás da carenagem) e ao acabamento dos refletores. É indispensável que a altura do facho do farol possa ser regulada. A qualidade das peças de metal é fundamental para a segurança do conjunto, por isso certifique-se que estão alinhadas, as soldas bem feitas, o metal tem bom acabamento e não apresenta oxidação. E para avaliar se o conforto ou o esterçamento do guidão são prejudicados procure uma moto com a carenagem já instalada.

Fonte: Revista Duas Rodas

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